31 de dezembro de 2006

RECEITA DE ANO NOVO

Para você ganhar um belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)

Para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;


Novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)

Novo, espontâneo,
que de tão perfeito nem se nota
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,


Você não precisa beber champanha
ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens? passa telegramas?)

Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas


nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem

e seja tudo claridade, recompensa, justiça entre os homens e nações,
liberdade com cheiro de pão matinal
direitos respeitados,
começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo cochila
e espera desde sempre.


Carlos Drummond de Andrade