14 de setembro de 2006

Desta vez vai ser diferente






(Versão para preguiçosos. Leia-se: editada)

A experiência dá lições inestimáveis, mas achar que tudo - especialmente os relacionamentos - se repete do mesmo jeito pode ser uma armadilha que você prepara e na qual cai sem perceber.

Cristalizar sentimentos, mágoas e opiniões não nos leva adiante. O melhor é viver ao ritmo da canção gravada por Lulu Santos: "Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia".

Há coisa que a gente sabe e pronto!
Aprendemos com a vida e - ainda bem - a memória traz a experiência de volta.

Quem não compreende que a panela tampada faz a água ferver mais rápido, vai gastar energia à toa. As ciências naturais encontram garantia nesse tipo de conhecimento, nascido da observação e da repetição do resultado.

E quando falamos de pessoas, de relacionamentos ou de situações que só perdem quando pré-concebidas e avaliadas?
Bem, aí é melhor parar e refletir um pouco.

Agir no piloto automático é a barca mais furada que se pode entrar quando o assunto envolve gente.

Quem saiu muito magoado de um namoro, por exemplo, pode até jurar de pés juntos que nunca mais vai se apaixonar. Mas o que ganha com isso?

No campo profissional, a pessoa bate com o nariz na porta uma vez e faz disso uma sina ou, então, poda os sonhos e ajusta as expectativas ao tamanho do miúdo.

Vale a pena?

O grego Heráclito, já no fim do século 5 a.C, filosofava: um homem não se banha duas vezes no mesmo rio porque nunca é o mesmo homem e nunca o mesmo rio.

De fato, esssa é a grande máxima para não encarar determinadas situações como se fossem simplesmente a reprise de um filme. O cenário pode até ser o mesmo, os personagens também, mas está nas mãos de cada um rescrever o roteiro e interpretar de maneira diferente seu papel na trama.

Mas, se a gente faz tudo igual ou avalia o outro sempre com a mesma lente, não há renovação possível. Nessa história também entra o medo - às vezes bastante justificável, pois quando houve infidelidade no casamento, por exemplo, e do felizes-para-sempre sobrou amargura, arriscar outra investida não é fácil a ninguém.

O alento, nesse caso, é saber que fugir do sofrimento faz parte do instinto de preservação.

No século 19, o filosófo alemão Friedrich Nietzsche (1844 - 1900) enxergou na repetição das situações uma chance de aprendizado e solução de conflitos.

Na teoria do eterno retorno, ele postulou que cada instante traz a marca da eternidade e todos os acontecimentos passados, presentes e futuros, se repetem indefinidamente. Em nível individual, isso significa que pessoas, lugares, situações se apresentam a nós de maneira recorrente ao longo da vida.

A chave, segundo Nietzsche, está em aceitar essa predisposição e ter a convicção de que repetiríamos cada gesto, cada ação milhões de vezes, se assim fosse preciso. Tanto que o filósofo propôs a pergunta: "Se, por acaso, um demônio aparecesse diante de ti, dizendo que tudo o que foi por ti vivido será repetido infinitamente, de maneira cíclica, o que faria? O amaldiçoaria ou o abençoaria?"

Errando e aprendendo

A referência pode ser um teste em que não fomos aprovados ou um relacionamento que não deu certo, tanto faz. Ao olhar para trás, é possível identificar preciosas lições na falta de êxito e nela fundamentar alicerces para acertar a rota e fazer tudo de um jeito diferente.

Tente uma, duas, dez mil...

No século 19, Thomas Edison, o inventor da lâmpada, buscando uma maneira de mantê-la acesa, experimentou mais de 10 mil combinações de maneiras sem sucesso. Perguntado sobre o porquê da insistência, ele disse que não encarava as tentativas como fracasso: cada uma delas o levava mais perto daquela que daria certo.

Parada para pensar

Muita gente cai nessa roubada. Firma um conceito de uma determinada pessoa - amigo desatencioso, filho desleixado, parceiro egoísta e por aí vai - e nunca mais atualiza esse arquivo. Mesmo quando o amigo passa a telefonar de tempos em tempos, o filho cuida bem da namorada, o parceiro abre mão do futebol para ir ao cinema com você.

Atenção para não aprisionar os outros em seus julgamentos, pois nesse caso quem está prisioneiro de um mesmo olhar e julgamento é você.

Arrisque, explore, conquiste

- "Venha até a borda". - "Não, vamos cair"
- "Venha até a borda". - "Não, vamos cair"
Ele foi até a borda. Eles o empurraram e ele voou.
Guillaume Apollinaire (1880 - 1918), poeta francês.

Um novo padrão de pensamento

Nossa visão do mundo é colorida por tudo o que vivemos. É como um álbum de fotografias. Só que as imagens registram não só momentos felizes e aventuras emocionantes, mas também crises, decepções, desapontamentos. Essas cenas carregadas de emoções e percepções volta e meia são revividas pelo cérebro e pelo sistema nervoso. A compreensão desse sitema explica por que temos a tendência a reagir segundo modelos prestabelecidos.

As céculas nervosas, os neurônios, fazem suas conexões em rede e, a cada pensamento ou sentimento, associações se formam como numa espécie de teia. A perspectiva de entrar de cabeça numa relação amorosa, por exemplo, aciona cadeias associativas anteriores, que tanto podem remeter a bons momentos, sentimentos de realização e plenitude como reviver desilusões, traição, mágoa, raiva.

Evitar que esses padrões que se estabelecem em nível físico se repitam indefinidamente demanda empenho e persistência. O primeiro passo é perceber em que momentos deixamos rolar essa resposta automática. Depois, resistir ao sofrimento que geralmente acompanha a mudança.

Sob pressão, resista

Resiliência. Essa palavrinha um tanto difícil exprime um conhecido princípio da física que de tempos para cá vem sendo aplicado aos estudos comportamentais. Na linguagem científica, significa a capacidade de um corpo voltar à forma original depois de submetido à deformação - por exemplo, como o sofá que afunda, quando alguém senta nele, e depois recupera o formato.

Acreditar que somos capazes de desenvolver a resiliência é mais do que um alento, é uma tática de sobrevivência frente aos desafios.

Sonhos, aliados nas chances de felicidade

Personagens, lugares, objetos. Preste atenção nas imagens dos sonhos: são mensagens que expressam onde você se encontra. Isso mesmo: os sonhos são a via régia para o inconsciente e, portanto, eles favorecem o auto-conhecimento.

De maneira simbólica - por isso, não subestime as situações bizarras e a linguagem cifrada - os sonhos traduzem nossas questões profundas. Dessa dimensão fluida, impalpável, ilimitada, onde tudo é possível, emergem respostas a dúvidas e inquietações.

Dialogar com os sonhos é praticamente abrir uma conversa consigo livre de condicionamentos e idéias preconcebidas.

Ninguém pode interpretar nossos sonhos melhor do que nós porque somos nós quem melhor sabe o contexto em que vivemos, nossos medos, desejos, inquietudes e ambições. Quando os gregos queriam respostas as suas indagações, dormiam à noite no templo dedicado ao deus apropriado.

Tudo muda o tempo todo

No Universo, tudo está em mutação e se renova a cada instante. Esse é um dos fundamentos do budismo: a impermanência, que os seguidores dessa doutrina chamam de anicca. Refletir sobre o sentido permanente nos faz compreender que nenhuma vivência tem que ser igual a outra. Vale por fé que existe um novo cenário - até mesmo interno - para todo pensamento, ação ou intenção.

Que carma!

Acontece muito: a gente se envolve de tal forma em uma relação complicada que acaba achando que a pessoa é um carma na vida. Esse conceito, que vem de Karman ("ação" em sânscrito), faz parte dos fundamentos do budismo e do hinduísmo e postula que todas nossas experiências refletem atitudes de vidas passadas. Uma parte importante, que às vezes se esquece, é que o princípio de causa e efeito vale também para a vida atual.

Isso vale não apenas para ações e atitudes concretas mas também para as intenções e os pensamentos. Quando algo não está acontecendo de maneira satisfatória, vale repensar se não estamos insistindo em repisar antigos erros. Por isso, mudar de atitude influi no carma de cada um.

(Revista Bons Fluídos - Setembro 2006 )

3 Comments:

Anonymous Anônimo said...

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15/09/2006, 11:37  
Anonymous Anônimo said...

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15/09/2006, 11:38  
Anonymous Anônimo said...

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15/09/2006, 16:23  

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