31 de julho de 2006

C'est la vie

É preciso reviver o sonho e a certeza de que tudo vai mudar.

É necessário abrir os olhos e perceber que as coisas boas estão dentro de nós, onde os sentimentos não precisam de motivos nem os desejos de razão.

O importante é aproveitar o momento e aprender sua duração, pois a vida está nos olhos de quem sabe ver.

- Audrey Markutis -

Simples assim.

Au revoir...

28 de julho de 2006

Sincera

Origem da palavra SINCERA, por Malba Tahan.

Sincera é uma palavra doce e confiável. Sincera é uma palavra que acolhe. E essa é uma palavra que deveria estar no vocabulário de toda alma. Sincera foi uma palavra inventada pelos romanos.

Sincero vem do velho, do velhíssimo latim.

Eis a poética viagem que fez sincero de Roma até aqui:

Os romanos fabricavam certos vasos de uma cera especial. Essa cera era, às vezes, tão pura e perfeita que os vasos se tornavam transparentes. Em alguns casos chegava-se a distinguir um objeto - um colar, uma pulseira ou um dado - que estivesse colocado no interior do vaso.

Para o vaso, assim fino e límpido, dizia o romano vaidoso:

- Como é lindo, parece até que não tem cera!
- "Sine-cera" queria dizer: "sem cera", uma qualidade de vaso perfeito, finíssimo, delicado, que deixava ver através de suas paredes.

Da antiga cerâmica romana, o vocábulo passou a ter um significado muito mais elevado.

Sincero é aquele que é franco, leal, verdadeiro, que não oculta, que não usa disfarces, malícias ou dissimulações.

O sincero, à semelhança do vaso, deixa ver através de suas palavras os nobres sentimentos de seu coração.

Simples assim.

Au revoir...

O convite

Não me interessa saber sua idade. Quero saber se você correria o risco de parecer tolo por amor, pelo seu sonho, pela aventura de estar vivo.

Não me interessa saber quais planetas estão em quadratura com sua lua. O que eu quero saber é se você já foi até o fundo de sua própria tristeza, se as traições da vida o enriqueceram ou se você se retraiu e se fechou com medo de mais dor.

Quero saber se você consegue conviver com a dor, a minha ou a sua, sem tentar escondê-la, disfarçá-la ou remediá-la.

Quero saber se é capaz de conviver com a alegria, a minha ou a sua, de dançar com total abandono e deixar o êxtase penetrar até a ponta dos seus dedos, sem nos advertir que sejamos cuidadosos, que sejamos realistas, que nos lembremos das limitações da condição humana.

Não me interessa se a história que me conta é verdadeira. Quer saber se você é capaz de desapontar o outro para se manter fiel a si mesmo. Se é capaz de suportar uma acusação de traição e não trair sua própria alma, ou ser infiel e, mesmo assim, ser digno de confiança.

Quero saber se você é capaz de enxergar a beleza do dia-a-dia, ainda que ela não seja bonita, e fazer dela a fonta da sua vida.

Quero saber se você consegue viver com o fracasso, o seu e o meu, e ainda assim pôr-se de pé na beira do lago e gritar para o reflexo prateado da lua cheia: "sim!"

Não me interessa saber onde você morou ou quanto dinheiro tem. Quero saber se, após uma noite inteira de tristeza e desespero, exausto e ferido até os ossos, é capaz de fazer o que precisa ser feito para alimentar seus filhos.

Não me interessa quem você conhece ou como chegou até aqui. Quero saber se vai permanecer no centro do fogo comigo ou recuar.

Não me interessa onde, o quê ou com quem estudou. Quero saber o que o sustenta, no seu íntimo, quando tudo mais desmorona.

Quero saber se é capaz de ficar só consigo mesmo e se nos momentos vazios realmente gosta de sua companhia.

Simples assim.

Au revoir...

25 de julho de 2006

Quem ama cuida

Somos uma geração perplexa, somos uma geração insegura, somos uma geração aflita - mas, como tudo tem seu lado bom, somos uma geração questionadora. O que existe por aí não nos satisfaz. Sofremos com a falta de uma espinha dorsal mais firme que nos sustente, com a desmoralização generalizada que contamina velhos e jovens, com a baixo auto-estima e o descaso que, penso eu, transpareceram em nossa equipe de futebol na Copa do Mundo. Algum remédio deve ser buscado na realidade, sem desprezar a força da imaginação e a raiz das tradições - até no trato com as crianças.

Uma duradoura influência em minha vida, meu trabalho e arte foram os contos de fadas. Esses relatos, plenos de fantasia falam de realidades e mitos arcaicos que transcendem linguagem, raça e geografia e revelam muito a respeito de nós mesmos.

Nessa literatura infantil reúnem-se dois elementos que me apaixonam: o belo e o sinistro. Ela abre, através da imaginação, olhos e medos para a vida real, tecida de momentos bons e ameaças sinistras, experiências divertidas e outras dolorosas - também na infância. Na realidade nem sempre os fortes vencem e os frágeis são anulados: a força da inteligência de pessoas, grupos ou povos ditos "fracos" inúmeras vezes derrota a brutalidade dos "fortes" menos iluminados. Porém o mal existe, a perversão existe, atualmente a impunidade reina neste país, confundindo critérios que antes nos orientavam. Cabe à família, à escola e a qualquer pessoa bem-intencionada reinstaurar alguns fundamentos de vida e instaurar outros.

Não vejo isso em certa - não generalizada - tendência para uma educação imbecilizante de nossas crianças, segundo a qual só deve aprender brincando. A escola passou a ser quase um pátio tumultuado, e a falta de respeito reproduz o que acontece tanto em casa quanto em alguns altos escalões do país. Essa mesma corrente de pensamento quer mutilar histórias infantis arcaicas como a de Chapeuzinho Vermelho: agora o Lobo acaba amigo da Vovó... e nada de devorar a velha, nada de abrir a barriga da fera e retirá-la outra vez. Tudo numa boa, todos na mais santa paz, tudo de brincadeirinha - como não é a vida.

Modificam-se textos de cantigas como "Atirei um pau no gato", transformando-a em um ridículo "Não atire o pau no gato" e outras bobajadas, porque o gato é bonzinho e nós devemos ser idem, no mais detestável politicamente correto que já vi. O mundo não é assim. Coisas más e assustadoras acontecem, por isso nossas crianças e jovens devem ser preparados para a realidade. Não com pessimismo ou cinismo, mas com a força de um otimismo lúcido.

Medo faz parte de existir, e de pensar. Não precisa ser o terror da violência doméstica, física ou verbal, ou da violência nas ruas - mas o medo natural e saudável que nos torna prudentes (não acovardados), pois nem todo mundo é bonzinho, adultos e mesmo crianças podem ser maus, nem todos os líderes são modelos de dignidade. Uma dose de realismo no trato com crianças ajudará a dar-lhes o necessário discernimento, habilidade para perceber o positivo e o negativo, e escolher o melhor. Temos muitos adolescentes infantilizados pelo excesso de proteção paterna ou pela sua omissão, na gravíssima crise de autoridade que nos assola; temos jovens adultos incapazes porque quase nada lhes foi exigido, nem na escola, nem em casa. Talvez lhes tenha faltado a essencial atenção e o interesse dos pais, na onda do "tudo numa boa".

Dar a volta por cima significará mudar algumas posturas e opções, exigir mais de nós mesmos e de nossos filhos, dos professores e dos alunos, dos governos e das instituições. Ou vamos transformar as novas gerações em fracotes despreparados, vítimas fáceis de armadilhas que espreitam de todos os lados, no meio do honrado e do amoroso - que também existem e precisam se multiplicar. Não prego desconfiança básica, mas uma perspectiva menos alienada. Nem todos os amigos, vizinhos, parentes, professores ou autoridades nos amam e nos protegem. Nem todos são boas pessoas, nem todos são preparados para sua função, nem todos são saudáveis.

Para construir de forma mais positiva nossa vida, é preciso, repito, dispor da melhor das armas, que temos de conquistar sozinhos, duramente, quando não a recebemos em casa nem na escola: o discernimento. Capacidade de analisar, argumentar e escolher para o nosso próprio bem - o que nem sempre significa para nossa comodidade ou sucesso fácil. Quem ama cuida: de si mesmo, da família, da comunidade, do país. Pode ser difícil, mas é de uma assustadora simplicidade, e não vejo outro caminho.

- Lya Luft -

Boas lembranças

Procurar pelo texto que eu mencionei aqui no blog foi a coisa mais fácil. Eu sabia exatamente onde ele estava.

Esse é um trecho de "Meu pai voa" e complementa o que eu escrevi ontem. Devidamente adaptado, claro.

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MÃE: E você, sente muita falta dele?

FILHA: Claro, ele morreu num momento em que eu precisava muito dele... Você é uma mãe maravilhosa mas não é um pai maravilhoso.

MÃE: (concordando) Do que você sente mais falta?

FILHA: Muita coisa.. Desde muito pequena, era para ele que eu corria quando me sentia triste... Sempre que me dava vontade de chorar eu ia para perto dele, ele percebia e pedia: "Me dá um abraço, eu estou precisando de um abraço". Era eu quem estava precisando, mas como eu era envergonhada, ele fingia que era ele quem estava com vontade de chorar. Aí, abraçados, eu chorava baixinho, ele fingia que nem percebia. Só depois que eu parava de chorar, demorasse o tempo que fosse, ele pedia para eu ir com ele até a padaria porque ele estava com muita vontade de comer um sonho. Ele pedia um sonho para cada um. Eu comia o meu e depois o dele, porque ele não gostava de sonho.

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Dá saudade...

"Melhor ser feliz a ter sempre razão".
Simples assim.

Au revoir...

21 de julho de 2006

Peixe fora d'água

É estranho quando me sinto exatamente assim: 'um peixe fora d'água'.
Minha identificação familiar é toda paterna. Meu gênio, meu raciocínio, minha forma de lidar com os problemas e com os meus sentimentos, meu silêncio, meus rompantes.. Enfim, não tem como negar que sou filha do meu pai.

Hoje o tenho como meu Anjo da Guarda e sei que de onde ele está, ele me orienta e me protege. Todo nosso contato é mental e o simples fato de pensar nele já me acalma. Quando às vezes tudo parece meio nebuloso, procuro ficar quietinha e esvaziar a minha mente das preocupações. É dessa forma que consigo ter mais clareza para enxergar o que está à minha frente e saber o que é preciso fazer.

Quando penso no meu pai, lembro de um texto que há muito tempo transcrevi e que hoje não faço idéia de onde esteja, mas que traduz bem o amor calmo e desprendido que ele sempre teve.

Ele era do tipo que no momento que você nem percebia, ele fazia o que você queria, mesmo sem gostar de fazer, só porque você ficaria feliz. Aquele felicidade proporcionada de forma incondicional era o céu para ele.

Tenho inúmeros exemplos de como ele era bom e solidário, mas não há necessidade de contar aqui. Até porque eu não soube dessas histórias por ele, e sim pela minha mãe, anos depois. Ele nunca precisou contar o que fazia pelos outros, porque ele praticou em vida um amor desprendido, que não cobra, nem exige condições. Essa, eu tenho certeza, é a maior lição que meu pai deixou para mim.

Por que resolvi escrever sobre isso? Acho que é a proximidade do dia dos pais me deixa um pouquinho mais sensível e pensativa.

Sem sombra de dúvida, meu pai é uma grandeza humana que deixa saudade.
Tenho certeza que ele assinaria embaixo dessa frase:
"Melhor ser feliz a ter sempre razão".
Simples assim.

Au revoir...

20 de julho de 2006

Atendendo a pedidos

Outro dia eu lembrei da história do entregador de pizza.
Nada impróprio não, apenas uma comédia barata em dia de chuva. Vejamos se eu ainda tenho a manha de contar...

Eu estava sozinha em casa e a chuva não me convidava para ir a lugar algum. Eu também não queria ter trabalho para fazer um lanche à noite. Queria algo prático como por exemplo o telefone da pizzaria mais próxima.


O pedido foi feito em menos de 5 minutos e eu não posso dizer o mesmo do tempo que tive que esperar para que a pizza fosse entregue. E não era um tamanho 'ultra-gigante'. Nem de longe. Era tamanho médio - cabe dentro de um prato normal. E o sabor era coisa simples de fazer - champingnon.

Ah sim, pedi um refrigerante também. Muito importante essa observação. A previsão de entrega foi de 20 minutos. Levando em consideração o tamanho da pizza e a distância entre a pizzaria e a minha casa, nada poderia dar errado. Certo? Errado.

Vamos a esses detalhes...
A tal pizzaria fica a menos de 3 km de onde moro. Posso supor que um motoboy leva no máximo 5 minutos até a minha casa. E se vier empurrando a moto, leva 30 minutos.

Pois bem, o dito cujo do entregador levou nada mais nada menos que 1 hora e 40 minutos. Minha solitária já tinha virado um 'acompanhado'. Tinha até passeata na porta do estômago para saber que providências tomar.

Quando toda a paciência estava prestes a se esgotar, finalmente a campanhia tocou. E era o tão esperado entregador, debaixo de chuva anunciando a minha pizza. Qual não foi minha surpresa ao saber que ele havia esquecido o refrigerante. Ou melhor, esqueceram de registrar - segundo ele.


O inusitado da história foi que o motoboy estava ligeiramente alto. A cena dele tentando encontrar a notinha, debaixo de uma chuvinha e sob a luz que chegava entre os galhos das árvores foi a melhor. Eu não sabia se ele estava me zoando ou se realmente aquele era o entregador que veio trazer a minha pizza (que já estava fria) e sem refrigerante.

No final de tudo, o que me fez rir foi o cumprimento dele, dando duas batidinhas no meu ombro e dizendo 'valeu colega' quando eu entreguei a gorjeta. Sim, eu fiz o favor de entregar a gorjeta. Vai que ele queria tomar mais alguma cerveja e estava desprovido de trocados. Não me restou muita coisa a não ser esquentar novamente a pizza.


Posso dizer que dá para tirar bom humor até de histórias toscas e bizarras iguais a essa. Se eu colocar meus fiéis neurônios para funcionar, lembrarei de muitas outras. Como a que eu chamei o garçom, que se chamava Wando, cantando a musiquinha "você é luz.."

Isso é papo para outro dia. Quem sabe amanhã.

Agora é hora de voltar ao batente.
Só para constar: Melhor ser feliz a ter sempre razão.
Simples assim.

Ao revoir...

4 de julho de 2006

My point of view

Passei três anos levando a culpa por um mal estar que não era provocado por mim.
Recebi o rótulo de ser uma pessoa que não se socializa (leia-se: que não se preocupa) com questões alheias.

Só que nesse final de semana veio um 'estalo': na verdade sou uma pessoa meramente distraída. Demoro a notar certos detalhes e a identificar determinadas mudanças. Principalmente quando o assunto é estética ou visual.

Só um adendo: mesmo que eu perceba que ocorreu alguma modificação, eu não sou de comentar. Nesse ponto, prefiro ser reservada e distraída a ser indiscreta e invasiva.

A minha sutil indiferença só é utilizada em raras ocasiões e nem sempre com pessoas certas, admito. Mas a minha distração é um tema de debate astrológico: nascer sob a regência do signo de peixes não é fácil. Porém, é divino! Literalmente.

Parodiando alguém, sabe lá Deus quem: "eu sei muito bem a dor e a delícia de ser quem eu sou".

Prazer, meu nome é Distração. Meu sobrenome é Encanto.
(Não menos importante: Bobeira é meu nome do meio.)

Por essas e por outras que eu termino dizendo: Melhor ser feliz a ter sempre razão.
Simples assim.

Au revoir...